A oniomania, ou compulsão por compras, ilumina uma pergunta que acompanha a psicanálise desde seu nascimento: como lidamos com aquilo que nos falta? Para Freud, a vida psíquica é movida por uma estrutura simples e profunda: desejamos porque não temos, e nunca teremos tudo. O desejo nasce justamente desse intervalo entre nós e o objeto que supostamente nos completaria. Por isso, nenhum objeto oferece satisfação plena; ele sempre carrega uma promessa de preenchimento, mas também a frustração de não cumprir totalmente aquilo que imaginávamos. No caso das compras compulsivas, o item adquirido funciona como uma tentativa de “resolver” essa falta constitutiva. Mas, como Freud mostra, quando o objeto é usado para encobrir um mal-estar interno, ele se desgasta rapidamente — e o sujeito precisa comprar outro, depois outro, e assim por diante. A modernidade, com seu apelo constante ao consumo, apenas dá nova forma a uma dinâmica que, na verdade, é bem antiga no psiquismo humano...
Quando Schopenhauer diz que vivemos “entre a ânsia de ter e o tédio de possuir”, ele está descrevendo algo que todos sentimos no dia a dia: corremos atrás de algo, conquistamos, e pouco tempo depois aquilo perde o brilho. Para ele, isso não acontece porque somos “exigentes demais”, mas porque existe dentro de nós uma força que nunca se satisfaz totalmente — uma vontade básica, sempre inquieta, que nos empurra para frente. Por isso a busca nunca termina, e quando finalmente conseguimos algo, logo surge uma sensação de vazio, como se ainda faltasse alguma coisa. Essa visão nos ajuda a entender por que a vida parece andar em ciclos: queremos, conseguimos, nos cansamos, e voltamos a querer. Freud, por outro caminho, chega a uma compreensão parecida. Ele não fala de uma “vontade metafísica”, mas de pulsões: forças internas que nos movem e buscam se descarregar. A ânsia de ter seria a tensão que sentimos quando algo dentro de nós pede satisfação; já o tédio de possuir aparece quando recebemo...